segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

VOCÊ E O SEU RETRATO
Por que tenho saudade
de você, no retrato,
ainda que o mais recente?

E por que um simples retrato,
mais que você, me comove,
se você mesmo está presente?

Talvez porque o retrato,
já sem o enfeite das palavras,
tenha um ar de lembrança.

Talvez porque o retrato
(exato, embora malicioso)
revele algo de criança
(como, no fundo da água,
um coral em repouso).

Talvez pela idéia de ausência
que o seu retrato faz surgir
colocado entre nós dois
(como um ramo de hortênsia).

Talvez porque o seu retato,
embora eu me torne oblíquo,
me olhe, sempre, de frente
(amorosamente).

Talvez porque o seu retrato
mais se parece com você
do que você mesmo (ingrato).

Talvez porque, no retrato,
você está imóvel
(sem respiração...)

Talvez porque todo retrato
é uma retratação.
(Cassiano Ricardo)

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